Políticas públicas e estudos voltados para a saúde do homem estimulam novos debates

Na foto, o perfil do rosto de três homens, de idades diferentes, com um céu azul de fundo

20/02/2014
Por Vivi Fernandes de Lima


Eles são fortes e não choram. Os homens carregam a fama de invencíveis no imaginário de muitas populações. No entanto, o tempo já provou que não é bem assim, e o Sistema de Informação de Mortalidade do Ministério da Saúde confirma: há mais óbitos masculinos do que femininos. Segundo os dados mais recentes, de 2011, foram registradas 665.551 mortes de homens e 504.415 de mulheres em todo o país. Eles vivem, em média, menos sete anos do que elas, e estão mais vulneráveis a doenças do coração, câncer, diabetes e à elevação do colesterol e da pressão arterial.

Uma série de fatores contribuem para este panorama, como a má alimentação, o consumo de álcool e o fumo. Pensando neste público, foi lançada, em 2009,  pelo Ministério da Saúde, a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, com o objetivo de ampliar o acesso da população masculina aos serviços de saúde, principalmente na atenção primária, com foco na capacitação dos serviços e na sensiblização da população. No total, 159 unidades estaduais e municipais aderiram ao programa. Para o pesquisador Romeu Gomes , do Instituto Fernandes Figueira, da Fiocruz, esta política ainda tem muito o que avançar: "Apesar de essa política ter sido instituída em 2009, não dá para se observar mudanças no atendimento ao público em geral. Mas esta política tem suscitado discussões que podem reforçar a ideia de que, na intervenção da doença ou na promoção à saúde das pessoas, homens ou mulheres, devem ser levados em conta modelos culturais de gênero", diz Gomes.

O pesquisador se dedica à temática "sexualidade, homens e saúde" desde 2005, o que resultou, entre outras publicações, no livro "A saúde do homem em foco" (Editora Unesp). Seu estudo chama a atenção para a perspectiva sociocultural de gênero e traz análises que tiram a  masculinidade do senso comum, como a ideia de que homens não sabem se cuidar. "Embora frequentemente encontremos homens que se cuidam pouco ou não se cuidam, há outros que cuidam da sua saúde e também da saúde da sua família. Nesse sentido, não podemos generalizar. Aqueles que não se cuidam ou cuidam menos de si costumam ser influenciados pelo imaginário de que os cuidados estão associados ao feminino e não ao masculino", destaca o pesquisador.

Os registros do Ministério da Saúde também indicam outros dados curiosos. Um deles é que o homem dos anos 2000 procura o Sistema Único de Saúde para fazer o exame de próstata. De 2003 a 2009, o número desses testes específicos triplicou, alcançando a marca de 3 milhões nesse período. Outro tabu do universo masculino vem sendo quebrado pelo SUS: de 2009 para cá, também aumentou a quantidade de vasectomias feitas pela rede pública de saúde. Em 2012, foram feitos 35.913 procedimentos, cerca de 1.700 a mais do que em 2009.

Para Romeu Gomes, a resistência ao cuidado com a saúde não está necessariamente relacionada a um determinado segmento masculino, nem de classe: "Vários fatores podem influenciar tal resistência. Há homens que, por acharem que devem ser fortes e invencíveis, não se cuidam e só buscam ajuda quando os problemas se agravam. Há outros que, em determinado momento de vida, estão mais sensíveis aos cuidados de sua saúde. Há ainda aqueles que resistem a se cuidar porque não têm condições, informações ou incentivos para isso". E conclui: "O grau de informação ou a profissão em segmentos masculinos nem sempre resultam em cuidados de saúde, nem ausência do machismo".